sábado, 31 de outubro de 2009

Momentos.

E aí você está, pequenininha, olhando para a cara daquele ser esquisito que diz: - Vem, Gabi, vem para a tia.

Você, de mãos dadas com a sua mãe, raciocina e procura, nos olhos dela, alguma razão para ir, e não encontra. Aí ela baixa, na sua altura e diz: - Gabi, aqui é a escola. A tia vai te ensinar a ler, escrever, e vai brincar contigo. Você vai conhecer outras crianças e vai fazer muitos amigos.

Aí você olha para a sua mãe, com aquela cara de "pra quê eu quero uma tia? Eu quero a minha casa, não quero amigos" e vai. Solta a segurança e parte para o abismo do novo. Cheia de dúvidas e angústias que duram até alguém te entregar a primeira massinha de modelar.

É a adaptação.

Anos mais tarde você está acuada no canto da sala de aula de Ballet. Olhando para as outras meninas e esperando a sua vez. Aí você gira, gira, gira, e quando consegue liberar a tensão e respirar, aliviada, ouve aquela voz: - Vamos, pode parar daí mesmo e volte para o canto, ainda não está bom. E você, em meio a cochichos e risadas tenta ser forte, fixar os olhos na quina esquerda e não chorar, para não parecer mais ridícula ainda.

É a força.

Passeio com a escola. Sua mãe acena e faz um sinal que você não entende direito. Ela não gosta quando você viaja atrás, no ônibus, acha perigoso. Mas você não dá atenção e canta as músicas do momento, com as amigas. Enquanto isso a sua mãe, já em casa, recebe uma ligação dizendo que o ônibus da escola havia batido, e que você, infelizmente... Mamãe e papai, sem raciocinar, voam para a escola e começam a gritar, malucos, até a diretora conseguir falar com alguém que assegurou que estavam todos bem. Aí você desce do ônibus, cansada de um dia inteirinho de folia, e toma um susto com abraços, beijos, carinhos, lágrimas, e preces por você estar bem. Apavorada, você pergunta o que houve e fica sem resposta.

É o cuidado.

E aqui está você, na festinha, sem saber onde põe as mãos, com uma amiga que parece ter nascido uns vinte anos antes de você, de tão segura. Ela te empurra para o menino de olhos verdes e diz: - Ela quer dançar. Antes que você diga que é mentira e que você nunca dançou com alguém antes ele pega na sua mão e pergunta porque você está tremendo. E você, tremendo muito, diz que está com um pouco de frio.

É a vergonha.

Aí você pergunta para o seu pai por que, tendo negado o presente que você queria tanto, ele resolveu comprar algo tão bacana para o seu irmão. Por que a grana foi curta para você, e não para ele. Aí seu pai, calmamente, coloca a outra mão para a frente e mostra aquilo que você queria tanto, e que está guardado há uma semana esperando a grana do presente do seu irmão. E você vai para o quarto desejando nunca mais ter que sair ou morrer, por ter sido tão injusta.

É a culpa.

Aí você consegue o seu primeiro emprego e descobre que vai ter que morar fora do estado. Entre choros e agonias você vai embora, sem saber como vai ser a vida daqui por diante, abrindo mão da sua casa ainda adolescente, sem nunca ter saído do convívio da família antes. O avião sobe e você aperta um guardanapo entre os dedos, olhando o mar e pensando no que fazer para diminuir aquele vazio. O avião desce e você, ainda no aeroporto, é chamada para uma reunião. Sentada, em meio às outras recém-contratadas você recebe a notícia de que surgiu uma vaga na sua cidade, e que você, por uma questão qualquer, foi escolhida para voltar pra casa. Aí você chega em casa de surpresa, e, em meio a sorrisos e lágrimas, arruma novamente as suas coisas no armário.

É o alívio.

Finalmente, após cinco longos anos de curso, a formatura. Você assina o certificado de conclusão e olha para a frente onde está o seu pai, entre fios, luzes e bandeiras, acenando pra você tentando filmar aquele momento. Você dá um tchauzinho sem-graça e depois pensa que, em meio a tantas pessoas, você é a única que tem um pai disposto a pagar aquele mico.

É a felicidade.

Aí você está chorando, deprimida. Liga para uma amiga atarefada que convida você para um café. Aí você desabafa, pede conselhos, reclama e ela ouve atentamente, como se aquele fosse um problema dela, e acalma você falando de coisas sem importância, e faz você perceber o quanto tudo se torna leve quando compartilhado com alguém que você ama.

É a cumplicidade.

Você odeia cheiro de hospital. Mas é necessário para qualquer procedimento simples e você, contrariada, deita numa maca , revoltada porque não pode pegar o elevador e ir você mesma, sozinha, deitar na cama e dizer que está pronta. Olha para cima e vê aqueles olhos acalentadores, ansiosos na medida certa, aquela medida que balanceia o cuidado com o momento e com o que você está sentindo ao mesmo tempo. Aí você passa por uma porta e ele fica para trás. Cheio de calma recomenda ao rapaz que tenha cuidado com o "tesouro dele". Você para e pensa que ele está falando de você. Naquele momento tudo perde a importância e você percebe que tem alguém ao seu lado, pra tudo.

É a plenitude.

O filme da vida.

Lindo aquele filme sobre a vida daquela pessoa, com todas as realizações, desesperos, amores, loucuras, explosões, culpas, brigas, alegrias e equívocos que ela já viveu.

Você se emociona e chora. Deixa a angústia e a raiva tomar conta de si e odeia, junto com ela.

Quantas coisas emocionantes quando a vida de alguém é retratada em menos de duas horas, com o requinte de um bom diretor, que organiza, capítulo a capítulo a estória daquele personagem, para que prenda a atenção e extraia sorrisos e lágrimas. Ainda mais numa tela gigante, que faz com que a vida de quem assiste fique bem pequenina.

Por mais que o parto tenha sido bem parecido com o seu, que a doença seja tão dolorosa quanto a sua e o pedido de casamento tenha sido até menos romântico.

E aí você sai do cinema pensando no quanto seria legal a sua vida se acontecessem tantas coisas estarrecedoras e extasiantes diariamente, e esquece que sim, elas acontecem, só que você está distraído demais ou apressado demais para dedicar-lhes a devida atenção.

Essa é a única diferença entre o que se presencia com um bom saquinho de pipocas na mão e o que é simplesmente vivido.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Um saco.

Acho que eu sou um saco quando estou feliz.

Muito pior do que quando estou triste.

...

É bom demais estar um saco.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

FOME X CIGARROS

- Oi.

- !!

- Calma min’irmã, num é rôbo não...tem um cigarro aê?

- Não amigo, eu não fumo.

- Num fuma porque num passa fome.

- Desculpe, eu não fumo mesmo.

- Nem passa fome, num é?

- Não, não passo.

- Ô glória, vá cum Deus.

- ...

domingo, 25 de outubro de 2009

Tão tão distante.

Sim, é bem verdade que eu estou morando longe.

Para quem não está acostumado, vir para Candeias pode ser uma viagem. Daquela que você tem que checar a água e o óleo do carro antes de enfrentar, mas para mim, que faço isso absolutamente todos os dias, com fome e na hora do rush, uma vinda no sábado ou no domingo, com o trânsito livre jamais vai ser um problema. Nem quando eu (se Deus quiser) for morar na tão sonhada Zona Norte e tiver que visitar alguém por aqui.

Existem vantagens. O espaço e o clima de praia dão uma incrementada em qualquer reuniãozinha de amigos, o apartamento é uma delícia e, para ter igual, dentro da cidade, perto de tudo, é necessária uma quantidade de grana que não existe no meu bolso no momento.

Tudo isso para dizer que, apesar de para mim não ser um grande sacrifício, eu sei que foi necessária uma dose extra de disposição da parte dos amigos para virem "de outro município", tomar uma cerveja conosco aqui.

E por isso sou duplamente grata pelos momentos maravilhosos, e reafirmo que se vocês conseguirem essa "dose extra" mais vezes, estaremos com as portas abertas.

Foi maravilhoso, nos divertimos muito, obrigadíssima.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Minhas maravilhas.

As coisas que eu mais gosto na minha vida não poderia comprar com dinheiro.

Eu tenho, sempre, todo dia.

Ainda bem porque eu tô até meio lisa.

:)

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Existem pessoas...

...que você só quer abraçar e agradecer por existirem.

Ser corno é:

Ter que acordar uma hora mais cedo porque todas as cidades das quais a sua aula é transmitida estão em horário de verão e a sua não está.

Cinco e meia da manhã?

Um chifrinho é secundário.

:)

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

...

Lavar o rosto, passar corretivo nas olheiras provocadas pela contração de todos os músculos da face de uma vez só.

Procurar ver o lado melhor das coisas e retocar o batom.

Passar a mão no cabelo e pensar que outras pessoas fariam isso, se você gritasse por socorro.

Continuar olhando fixamente para a tela, e ter esperança.

Amar a sua vida, os seu projetos, os seus desejos.

E amando, correr atrás de tudo, de peito aberto.

Fazer bem a si mesma, e não fazer mal aos outros.

Melhor: fazer bem aos outros sem fazer mal a si mesma.

Ter uma amiga bonita pra desabafar.

Um vinho pra beber, uma música pra dançar.

Um carinho pra dar, um susto pra tomar.

Ter uma raiva, uma indignação momentânea, e concluir que você é melhor.

Dizer que não quer errar novamente e ouvir uma gargalhada - "você sempre vai errar, amiga, e ninguém morre disso".

Escrever, enviar, escrever, publicar.

Perder momentos da aula pra digitar os desabafos.

Ligar pedindo carona e ouvir: Eita, maravilha, a gente conversa no caminho.

Olhar para o lado e ouvir algo sobre a quantidade de coisas que você é capaz de fazer, pensar, ouvir, escrever, reclamar, galhofar e concluir durante tão curto espaço de tempo.

E amar ser você mesma.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Desejo.

É madrugada. A cidade está toda apagada. A sensação que dá é que, sobrevoando a cidade, a única coisa que vai ser vista é a luzinha da sua janela, acesa, solitária.

A insônia vem a calhar, ela te leva a pensar em coisas que a correria deixa lá no cantinho do teu cérebro, esperando o momento de serem trabalhadas pela mente.

A criança que você foi, o adolescente que você quis ser e o adulto que você tenta, e não consegue.

Isso porque viver, é bom que seja de tentar, quando conseguir tudo, acabou. Os sonhos são o alimento da alma, é de projetar de se vive.

O brinquedo, o carro, o cônjuge, filho, a viagem, a vida.

A morte não precisa ser projetada, ela vai chegar inevitavelmente, por isso não é desejada.

Será?

A vida é o desejo.

domingo, 11 de outubro de 2009

Ah, se eu pudesse.

Se eu pudesse proteger todas as pessoas com as quais me importo, pediria mais civilidade para aquele que não deu passagem no trânsito, naquela vez.

Pediria para o moço segurar o elevador, para que ele não se atrasasse para a prova.

Pediria para ela aparecer, quando ele espera com ansiedade que ela veja o golpe que ele aprendeu.

Pediria que ninguém falasse alto, e tivesse paciência quando ela explode de angústia.

Pediria para esperarem menos criatividade quando ela está tensa com as contas que tem para pagar.

Pediria que não tocassem mais naquele assunto, que tanto o angustia.

Pediria por mim, pela minha própria paciência, e pelo cuidado que às vezes não lembro de ter.

sábado, 10 de outubro de 2009

Não.

Não, para certas coisas não existe o meio termo.

Não existe meio honesto.

O meio inteligente é sempre um pouco burro e o meio feliz está sempre um tanto triste.

Os meio teimosos são sempre muito turrões.

As meio bonitas são feias.

E os meio apaixonados não se entregam, porque não existe se entregar pela metade.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

ôti titia...

- Gabi chegoooouuu!!!

- Oi mocinho, já jantou?

- Não, tava esperando tu...

- E como você sabia que eu iria chegar?

- Eu "sentiu".

ôti...

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Não, não entra.

Entrei no MSN depois de anos e vi uma amiga com o nick "não entra mosca".

Nessa hora senti as asinhas se debaterem no céu da MINHA boca.

Cala-te.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

As surpresas da rotina.

Em alguns países, por questões culturais, os casamentos são verdadeiros contratos celebrados entre as famílias dos noivos.

Muitas vezes os noivos só se vêem no casamento.

(não, isso não é um texto didático sobre cultura geral, calma).

É estranho pensar em ter que tocar aquele homem ainda naquela noite em que você acabou de conhecê-lo e em tê-lo como seu, mas, no que se trata do aspecto conhecer...

Nem namorando 12 anos, meu bem.

Mas antes que você se apavore e peça para o seu pai escolher seu marido, somente para se isentar da culpa de casar com um bosta por livre e espontânea vontade, devo dizer que não estou me referindo somente aos aspectos desagradáveis.

É maravilhoso perceber que você, aos poucos, vai deixando de ser namorada para ser um pedaço da vida daquele homem. Você vê claramente a preocupação dele quando pode ter desagradado você. O sono começa a ir embora quando você está triste, e é substituído por uma vontade de dar colo que você aceita como um bebê, e afunda naqueles braços como se eles fossem o seu oxigênio, vital, enquanto ele acolhe como se quisesse te proteger do mundo inteiro, até dele mesmo.

E aí qualquer surpresa desagradável que a rotina se encarregue de lhe apresentar, está previamente compensada.