Imagine.
Imagine se, de repente, ao passear inocentemente pela rua, você começasse a ver os carros andarem pra trás. Não em marcha ré, mas em movimentos incontroláveis, repetindo o que foi feito frações de segundos antes. Buzinas, freios repentinos e sinalizações.
Você, pasmo, começaria a olhar ao seu redor e veria o padeiro desfazendo o pão e devolvendo a farinha para o saco, e a ambulância levando o moribundo de volta à vida.
Antes de correr atrás do cachorro que marcha de costas para casa sem entender o que você faz parado, você abraça o seu próprio pulso, como se o relógio fosse sair voando para o passado, impulsionado pelos ponteiros anti-horários que giram sem parar.
Medo. Será que você poderá escolher exatamente o que quer voltar atrás? Será que se você escolher reparar o apelido infeliz que pôs naquela da quarta série, e que se tornou a bola de neve suicida da vida dela, o seu filho, tão amado, voltará para o ventre materno e aguardará a longa faculdade de medicina da sua futura ex-mulher para nascer?
Confuso, você lembraria do dia em que foi infiel, e desejaria nunca ter pisado naquele café, e nunca ter conhecido a dinamite que pipocou nos meninos, com doze e nove, na época. Idade suficiente para nunca perdoar.
Você diria mil vezes que ama o seu pai, mesmo desejando que ele sumisse. Voltar no tempo seria desenterrá-lo, e acordar aliviado do pesadelo de vê-lo morto.
Finalmente, meio indeciso entre corrigir e viver, meio cansado de pensar em que atitude seria a ideal em determinado momento, você pediria, com todas as suas forças, para os carros voltarem a andar para frente, e para o passado ficar lá, quietinho, onde você possa amargar os seus arrependimentos.
Você, pasmo, começaria a olhar ao seu redor e veria o padeiro desfazendo o pão e devolvendo a farinha para o saco, e a ambulância levando o moribundo de volta à vida.
Antes de correr atrás do cachorro que marcha de costas para casa sem entender o que você faz parado, você abraça o seu próprio pulso, como se o relógio fosse sair voando para o passado, impulsionado pelos ponteiros anti-horários que giram sem parar.
Medo. Será que você poderá escolher exatamente o que quer voltar atrás? Será que se você escolher reparar o apelido infeliz que pôs naquela da quarta série, e que se tornou a bola de neve suicida da vida dela, o seu filho, tão amado, voltará para o ventre materno e aguardará a longa faculdade de medicina da sua futura ex-mulher para nascer?
Confuso, você lembraria do dia em que foi infiel, e desejaria nunca ter pisado naquele café, e nunca ter conhecido a dinamite que pipocou nos meninos, com doze e nove, na época. Idade suficiente para nunca perdoar.
Você diria mil vezes que ama o seu pai, mesmo desejando que ele sumisse. Voltar no tempo seria desenterrá-lo, e acordar aliviado do pesadelo de vê-lo morto.
Finalmente, meio indeciso entre corrigir e viver, meio cansado de pensar em que atitude seria a ideal em determinado momento, você pediria, com todas as suas forças, para os carros voltarem a andar para frente, e para o passado ficar lá, quietinho, onde você possa amargar os seus arrependimentos.